No Rio, governadores de dois estados dos EUA afirmam que política climática de Trump não afeta suas metas
03/11/2025
(Foto: Reprodução) Representantes da Aliança Climática dos EUA participam do Fórum de Líderes Locais da COP30
Raoni Alves/g1
Enquanto o governo federal dos Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, adota uma postura de retração nas ambições climáticas globais, governadores de estados liderados pelo Partido Democrata afirmam que a ação contra as mudanças climáticas no país "está viva e prosperando" em nível estadual.
Em participação no Fórum de Líderes Locais da COP30, realizado nesta segunda-feira (3) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, três representantes da Aliança Climática dos EUA apresentaram metas concretas de redução de emissões e garantiram que a falta de ambição de Washington não os impede de agir. Entre eles estavam governadores do Wisconsin e Novo México, estados democratas, de oposição a Trump.
O fórum, que antecede a Conferência do Clima da ONU em Belém (COP30), reúne centenas de prefeitos, governadores e autoridades para destacar como cidades e regiões aceleram o progresso climático global.
A mensagem dos líderes norte-americanos foi clara. Para eles, os EUA continuam comprometidos com o Acordo de Paris por meio de seus estados.
Casey Katims, diretor executivo da Aliança Climática dos EUA, foi o primeiro a detalhar os avanços do grupo, que reúne estados comprometidos com a agenda climática. Ele citou conquistas passadas e traçou os objetivos futuros.
"Os principais objetivos de alto nível que alcançamos foram uma redução de 24% nas emissões em nossos 24 estados e territórios nos últimos 18 anos. Isso significa que quase um quarto de nossas emissões já foi reduzido", afirmou Katims.
"Estamos no caminho para atingir nossa meta de 2025 de reduzir as emissões em 26 a 28% até meados desta década", completou.
Olhando para o futuro, Katims anunciou metas ainda mais ousadas.
"A longo prazo, estamos trabalhando para uma redução de 50 a 52% até 2030 e uma redução de 61 a 66% até 2035".
Sobre a mensagem que será levada à COP30 em Belém, ele foi taxativo e reforçou o compromissodos estados norte-americanos.
"Os Estados Unidos são um sistema de governo delegado, no qual há uma divisão de poderes entre o governo federal e os estados. Queremos garantir que todos saibam que a ação climática nos Estados Unidos está viva e prosperando no nível estadual", analisou.
Autoridade estadual
Tony Evers, governador do estado de Wisconsin, usou sua fala para explicar o mecanismo prático de poder que os estados possuem para implementar sua própria política energética, independente do governo central.
"Nos estados, é assim desde o início. O governo federal não concentrou todo o poder, como vimos em outros lugares. No nível estadual, muitas das mudanças para garantir que tenhamos energia limpa suficiente no estado têm a ver com as concessionárias de energia", explicou Evers.
O governador detalhou seu papel direto nessa governança. "As concessionárias no estado de Wisconsin, eu sou quem nomeia as pessoas que supervisionam essas concessionárias. (...) Todos os estados, incluindo o estado de Wisconsin, têm poderes diretos que podem usar para garantir que estão fazendo o trabalho específico para a comunidade", comentou.
Exemplo de transição energética
Michelle Lujan Grisham, governadora do Novo México, foi a mais enfática ao demonstrar com dados como seu estado está conciliando produção de energia e redução de emissões. Ela iniciou sua participação conectando a crise climática com sua história pessoal e a realidade visível no estado.
"Ver a aridificação do estado e as mudanças ao longo da minha vida é algo que podemos realmente demonstrar com o exemplo e discutir com nossas famílias e vizinhos. É visível e poderoso", disse.
"Este relatório indica que estamos fazendo progressos realmente incríveis", completou.
A governadora enumerou feitos ambiciosos, posicionando o Novo México na vanguarda da inovação energética.
"Nossos estudos e trabalhos recentes indicam que o Novo México pode, de fato, ser o lugar número um no planeta para energia geotérmica – sem água, seca, em circuito fechado, energia livre de carbono".
Ela também destacou o investimento privado e a liderança em energia eólica.
"A maior fazenda eólica da América do Norte está no Novo México. Somos o segundo maior produtor de energia eólica" .
Grisham ainda fez um contraste direto com o estado vizinho, o Texas.
"O que o Texas não está fazendo, mas o Novo México está, é que estamos aumentando nossa produção de petróleo e gás enquanto reduzimos as emissões, as emissões de metano. Temos metade das emissões de metano do Texas, enquanto aumentamos a produção em 100%".
Ela tambem citou uma meta rigorosa para o futuro. "Temos um requisito de redução de metano de 98% em nossos campos de petróleo e gás no Novo México".
Tudo isso, segundo ela, enquanto se garantem "alguns dos preços de energia mais baixos da América" .
O Fórum de Líderes Locais da COP30 no Rio é organizado em parceria pela Presidência da COP30 e pela Bloomberg Philanthropies, e tem como objetivo impulsionar a próxima década de progresso climático, colocando a liderança local no centro das ações .
A COP30 ocorrerá em Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025.
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